Julgar o Nuno Gomes apenas pelos golos que falha é, na minha perspectiva, tão obtuso como julgá-lo apenas pelos golos que marca.
Desde que jogou pela primeira vez pelo Benfica, na época de 1997/1998, o Nuno Gomes tem sido opção de todos (todos!) os treinadores que com ele trabalharam no nosso Clube: Manuel José, Mário Wilson, Graeme Souness, Shéu Han, Jupp Heynckes, Jesualdo Ferreira, Fernando Chalana, José António Camacho, Giovanni Trapattoni, Ronald Koeman e Fernando Santos. Foi opção, válida e regular, na Fiorentina: participou em 30 jogos na primeira época e em 23 na segunda.
Como ponta-de-lança, Nuno Gomes não tem apenas a função de marcar golos. Tem a função de criar espaços, levando defesas na marcação; tem a função de criar jogo; tem a função de ser inteligente na forma como se posiciona em campo. Tem a função de se adaptar aos diferentes esquemas tácticos dos diferentes treinadores. Tem a capacidade de jogar para a equipa e não de pôr a equipa a jogar para ele.
Desde que regressou da Fiorentina, só fez uma época inteira sem lesões (a corrente). É minha convicção de que não ganhou o troféu de melhor marcador do campeonato transacto porque um sarrafeiro dos Belenenses lhe causou uma lesão gravíssima que o arredou da luta pelo dito troféu. Individualmente, não precisa desse troféu para provar nada.
Quem aprecia futebol, aprecia a técnica e a inteligência do Nuno Gomes em campo. Fora do campo, basta ouvir o testemunho dos seus colegas para se aquilatar da sua importância.
No entanto, as críticas são várias. Algumas tão mesquinhas como as que teve que ouvir outro grande futebolista do Benfica: o Néné. (Tenham calma os mais assanhados, pois não estou a estabelecer nenhuma comparação entre os dois enquanto futebolistas. Estou apenas a falar da gratuitidade de algumas críticas que são parecidíssimas em ambos).
Ouvir, ler, ver benfiquistas a ridicularizar um futebolista como o Nuno Gomes provoca em mim a sensação de que se está a cometer uma grande injustiça para com um futebolista que muito orgulho tenho em que já leve oito épocas de águia ao peito. Esta sensação de que se está a cometer uma grande injustiça mais se justifica quando vejo um ou outro adepto na bancada do Estádio assobiar uma referência do clube (com oito anos de casa) e aplaudir alguns que nem oito meses de casa farão.
Obviamente que o Nuno Gomes comete erros. Também o Rui Águas, o Nené, o Filipovic, o Magnusson (apenas para falar de alguns dos que vi jogar) os cometeram. Entre o “deve” e o “haver”, o Nuno Gomes, tal como outros grandes futebolistas do Benfica, ainda continua a ter, na minha opinião, uma grande margem de crédito. E quando tenho dúvidas, lembro-me de vários jogos, entre os quais o das imagens que ilustram este post.
A memória é curta apenas para quem a não tem.