Será que o papel do adepto é apenas aplaudir a sua equipa e, quando muito, vaiar árbitros e adversários?
Confesso que não vaio a equipa de futebol do meu clube, nem nenhum futebolista que a componha. Confesso que, esta época, já mostrei lenços brancos ao treinador principal do meu clube. É uma situação que deixa sempre um amargo de boca em quem os vê e, garanto, em quem os mostra. Não é fácil protestar contra quem tem a responsabilidade de liderar tecnicamente o clube pelo qual sofremos. Acaba por ser o reconhecimento do falhanço.
O actual treinador do Benfica tem a seu favor o seu benfiquismo. Pouco mais. Surgiu como um nome menor, perante as ilusões que a comunicação social vendeu aos adeptos: Camacho e Erikson. Surgiu com o anátema de ter perdido um campeonato quando teve o Jardel a marcar umas boas dezenas de golos. Surgiu com o estigma de ter uma ligação fraternal com o presidente do FC Porto. Surgiu com uma equipa técnica que não convence: tirando o Chalana, F. Santos trouxe consigo o inseparável Rosário, o Justino (que, pelo que me dizem, não servia para treinador dos guarda-redes dos seniores do Sporting de Paulo Bento, mas serve para treinador de guarda-redes dos seniores do Benfica de F. Santos) e um jovem promissor preparador físico com uma experiência reduzida na Primeira Divisão do futebol luso. Em suma, F. Santos surgiu no momento errado, com a companhia errada. Isto foi o que sentiu o comum dos adeptos benfiquistas, com excepções.
A época começou mal. Perdemos nos jogos de pré-temporada e perdemos por muitos. F. Santos começou, aí, a perder o benefício da dúvida. A época continuou mal e viram-se os primeiros lenços brancos na Luz. A Direcção protestou. A Direcção apoiou o Treinador. A Direcção deu a entender que os adeptos servem para comprar kits, pagar quotizações, comprar bilhetes de época, apoiar a equipa de futebol do Clube, mas não servem para mostrar lenços brancos. A Direcção fez o papel que dela se esperava na defesa do treinador, mas excedeu-se na crítica aos adeptos que mostraram os lenços brancos. Há duas formas de protestar: mostrar os ditos lenços ou abdicar de ir ao Estádio. A primeira parece causar menos danos do que a segunda.
Entretanto, os resultados foram aparecendo. Os lenços e as vaias pararam, o apoio regressou. A emotividade / irracionalidade do adepto funciona assim: em função do resultado.
Nesta fase da época, os resultados têm sido pouco famosos: nos últimos três jogos tivemos dois empates (FC Porto e Beira-Mar) e uma derrota (Espanhol). Os adeptos começam a duvidar de que seja possível vencer o Campeonato, e a Taça UEFA é uma possibilidade… remota.
Este é o momento mais importante da época, tudo se define. O sucesso ou insucesso é decidido no imediato. Todos esperamos o sucesso: somos benfiquistas e não nos podemos contentar com a mediocridade de ser segundo.
Assim, espero o melhor e temo o pior.
Amanhã, como sempre ao longo desta época e da anterior e da anterior à anterior, lá estarei no Estádio, no nosso Estádio, para apoiar a equipa e celebrar mais uma vitória. Caso assim não suceda, todos sabemos para quem se voltará o implacável dedo acusador. Caso a vitória não surja, surgirão, não duvidemos, os lenços brancos. A Direcção virá em socorro do treinador e acusará os adeptos de mau benfiquismo. Convém, se assim for, que ninguém se esqueça de um pormenor:
As mãos que acenam lenços enxugam lágrimas.