É com muito prazer que escrevo as minhas primeiras linhas neste espaço de comunhão benfiquista e com muita honra que o partilho com gente que muito respeito. Benfiquistas de gema, almas sofredoras, gente que vive com a Águia no coração. Boa gente, o que tornou o convite muito fácil de aceitar e, francamente, irrecusável.
É, como o Pedro já aqui o disse, fácil falar nas vitórias. Enaltece-se o espírito ganhador, canta-se a alma colectiva, tem-se confiança no futuro, a onda vermelha inunda o país, inunda o mundo.
Nos momentos difíceis é difícil - muito difícil - porque o instinto de auto-protecção nos arrasta para uma postura cínica, porque sofrer assim cansa, claro que cansa. Porque quando o Benfica perde ou empata, nós que vivemos com ele na alma, morremos um pouco por dentro. E morrer nunca fez bem a ninguém.
Mas nesses momentos, em que mergulhamos na mais negra solidão e em que o futuro é um poço negro, o que me conforta e o que há que ter presente, meus amigos, gente que vive com o Benfica na alma, é que não – percebamos isto - nunca estamos sozinhos. Há lá fora um mundo de gente sem igual (que nos torna o único clube capaz de encher os estádios deste país) cuja alma chora como nós pelo Glorioso. E se nas vitórias estamos unidos e mostramos a força da nossa singular alma colectiva, o que se impõe é que nos mantenhamos unidos nas derrotas, que essa alma e dimensão nos ampare e dissolva a agonia dos momentos difíceis. Há que libertar a dor que fervilha dentro de nós, gritá-la, partilhá-la, para perceber que não é só nossa, é de todos nós, benfiquistas.
O sofrimento atroz das ocasiões perdidas, a noção de que tudo o que alcançamos custa muito mais que aos outros porque é contra tudo e contra todos, sempre. A montanha russa emocional, desgastante, cansativa, que nos leva a pensar numa semana que vamos ganhar tudo e na seguinte achar que não vamos ganhar nada. Acreditar que tudo continua a ser possível, mesmo com o treinador e alguns jogadores que temos.
Não é tudo isto parte intrínseca do que é ser Benfiquista? Parece-me que sim. Não: tenho a certeza que sim.
Cantemos, pois, aqui – na Tertúlia Benfiquista - as vitórias benfiquistas e o voo triunfal da Águia, mas partilhemos também aqui a nossa dor comum. Obtenhamos também aqui força para lutar contra as amarras do destino, muitas vezes cruel e injusto, e contra a hipocrisia e baixeza moral do anti-benfiquismo que grassa por este país.
Faça-se a catarse depressa, que na quinta-feira o momento é de esperança, outra vez, como sempre.
Força Benfica