Serviu este ponto prévio para justificar o porquê de eu neste momento estar a atravessar uma fase particularmente complicada no que às minhas esperanças de que esta época se venha a revestir de êxito diz respeito. É verdade, não há como negar, como todo o benfiquista que se preze, passo do 8 ao 80 mais depressa do que demora a curar uma simples dor de cabeça, se esta for supervisionada pelo nosso departamento médico. Assim, e tendo em conta o que me tem sido possível observar nos jogos já decorridos, devo dizer que estou muito mais perto do oito do que do oitenta. E se às frouxas exibições até agora observadas juntarmos a constatação dura e complicada, ainda hoje, de encarar, que o treinador se continua a chamar Fernando Santos, então vemos que a saída de Simão Sabrosa acaba por ser apenas um pormenor, a cereja azeda no topo deste imenso bolo, estando portanto longe de ser a causa maior para tudo aquilo que de mau se prepara para nos acontecer. E tinha isto de acontecer logo agora, e logo a mim (!), que estava tão perto do oitenta quando vi o Benfica dar a volta ao resultado na Roménia e observava, com indisfarçável regozijo, que além de finalmente termos descoberto o matador há tantos anos ausente também contávamos com o factor diferenciador de termos mantido a "espinha dorsal" do nosso melhor 11, ao contrário do que havia sucedido com os nossos principais rivais...
O que se seguiu então que tenha provocado este meu actual estado de ânimo?
O empate dos romenos, na sequência de uma falha risível do guarda-redes que vinha (?) só por si garantir a conquista de uma série de pontos-extra no final do campeonato; a continuidade do futebol desgarrado, falho de entusiasmo e com lacunas várias ao nível da movimentação colectiva da equipa (vulgo "dinâmica de jogo"), tantas vezes observadas na época passada; a abertura de uma pequena brecha na janela directiva que permitiu verificar a existência de uma espécie de paz podre que parece imperar na relação dos principais dirigentes com o treinador principal, que vem dar razão aos que, como eu, defendiam a sua substituição no final da época precedente pois a sua continuidade apenas iria adiar o inadiável, caso o inicio de campeonato (que ainda nem sequer aconteceu!) viesse de braço dado com alguns resultados menos positivos; a triste crueza dos números que fazem questão de demonstrar que as lesões musculares continuam a surgir com frequência inusitada, o que vem colocar em xeque o trabalho desenvolvido pelo responsável pela preparação física do conjunto; a saída do desequilibrador-mor do Benfica das últimas largas temporadas, a que se seguiu a contratação de vários jovens que, podendo ter um futuro risonho, vêm carregar com o pesado fardo de terem de produzir no presente aquilo que em condições ideais só lhes deveria ser exigido no futuro.
Tendo em conta o exposto permito-me duvidar, e bastante, que neste momento o actual plantel não esteja blindado e as saídas de elementos fundamentais (onde Manuel Fernandes, por exemplo, se inclui) completamente postas de parte. Até porque, da maneira que eu vejo as coisas, esse seria (mais) um tiro num pé já de si debilitado e que, em última análise, poderia provocar uma infecção generalizada e a gangrena que levaria à amputação do mesmo.
Abstrair-me-ei de vos fazer notar que a passagem para o oitenta será "facilmente" efectuada, assim alguns destes pressupostos se venham a verificar:
- Cardozo e Nuno Gomes recuperam a tempo da pré-eliminatória da Liga dos Campeões e ajudam o clube a alcançar a fase de grupos da competição;
- Freddy Adu e Di Maria vêm-se a revelar óptimos reforços e, além de fazerem esquecer Simão e Miccoli, tornam-se duas referências do clube deitando por terra os cenários que previam um tempo de maturação e de adaptação ao futebol europeu que desta forma ficam longe de se confirmar;
- Após uma carreira em que os sucessos foram escassos, nomeadamente quando ao comando de equipas com aspirações elevadas, Fernando Santos aproveita a época 2007/08 para relançar a sua carreira e acaba por se tornar o treinador ideal para levar o Benfica à conquista do títulos nacional e a (voltar a) brilhar no panorama europeu. Tudo começou com um início de época verdadeiramente fabuloso e de todo em todo surpreendente pois às derrotas e exibições tristonhas da pré-época seguiram-se o estatuto de equipa-sensação da 1ª fase da Liga dos Campeões e um percurso quase 100% vitorioso na 1ª volta do campeonato nacional.
Off-topic:
Aguardo ansiosamente a chegada do dia em que, à pergunta sobre o potencial de um qualquer reforço de um dos grandes, o interlocutor responda com sinceridade: "Acho que é um jogador mediano. Basicamente penso que não trará nenhuma mais-valia e, francamente, a julgar pelas suas prestações nas últimas temporadas, não vai vingar neste clube."
Até isso suceder, contentar-me-ei com os chavões habitualmente empregues neste tipo de situações: "É um óptimo jogador!", "A equipa acertou em cheio com esta contratação!", "Com toda a certeza vai ser um dos melhores jogadores do campeonato!", "Tem boa técnica!", "Óptima impulsão!", "É um excelente finalizador!", "Defende bem!", "Distribui muito bem o jogo!", "Tem uma óptima técnica de recepção e passe!", "Chuta esplendorosamente!".
Para ser dado o passo decisivo que fará com que finalmente se atinja o ridículo completo neste tipo de entrevistas, falta apenas a que um destes ex-técnicos, familiares ou empresários que sempre são ouvidos aquando destas transferências a fim de validarem as mesmas, termine a descrição das qualidades do jogador com um comovido: "E além do mais é amigo do seu amigo!"...