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quinta-feira, julho 12, 2007
WC Pato.
Ainda não desistimos de, um dia, conseguir que a Leonor seja escriba neste blogue. :)

Enquanto não tivermos a honra de ter a presença da Leonor nesta Tertúlia, temos de nos contentar com a reprodução da sua prosa no jornal “A Bola”.
Esta última crónica da Leonor Pinhão é uma resposta a um moço de fretes e recados que, num assomo de clarividência e capacidade de se auto caracterizar, decidiu assinar os fretes que faz ao dono com o sugestivo pseudónimo de ‘Pato’.

Deixo-vos a reprodução da resposta da Leonor Pinhão ao referido labrego.

"De um romancista inglês, que gosto muito, guardei sempre esta frase por a saber verdadeira: «Em todas as infâncias, há sempre um momento em que uma porta se abre e deixa entrar o futuro.»
Pelos meus dez anos, estando a lanchar com a minha avó e uma tia na varanda do snack-bar da Praia Grande, sobranceira à piscina de água salgada, veio o empregado de bandeja, e com maus modos, dispor sobre a mesa o serviço de chá, as torradas aparadas e o mais que fora encomendado, com a graciosidade de quem atira tijolos ao chão.
A louça ao bater no tampo metálico da mesa fez um barulho grosseiro e a força dos múltiplos impactos salpicou de chá a família. Como se não bastasse, meia torrada saltou do prato e ficou de esguelha, em posição inconveniente.
Cumprido o serviço, o homem da bandeja foi-se embora, muito direito, levando consigo a notinha providenciada pela minha avó que ainda lhe disse: «Pode ficar com o troco.»
– Que sujeito mais boçal… – comentou a minha tia.
– Coitado… – respondeu a minha avó.
– E ainda lhe deu gorjeta quando o que lhe devia ter dado era uma descompostura! — insistiu a minha tia, abespinhada com o comportamento do criado.
Ao que a minha avó, justificando-se, respondeu:
– Era só o que faltava! Não passo cartão a labregos.
– Há excepções — contrapôs a minha tia.
– Não há, não.
Eu vi e ouvi tudo, sem perceber, é certo, o alcance filosófico do diálogo que, mesmo assim, muito me impressionou pela novidade das expressões cujo sentido desconhecia. À noite, perguntei ao meu pai o que era um «labrego» e o que significava «não passar cartão a labregos».
Com as suas explicações, fiquei esclarecida. Mais do que esclarecida, convencida. Foi este o momento da minha infância em que o futuro me entrou pela porta.
Por vezes, no entanto, permito-me duvidar. Do ponto de vista dos labregos, o não lhes passar cartão, não poderá ser entendido como o usufruto de um poder intimidatório, exercido impunemente sobre pessoas de bem, na certeza fácil de que não terão resposta?
Não deveria a minha avó ter posto no lugar aquele criado com a bandeja, protagonista de um serviço lamentável, em vez de se dar ares de abstracção e limitar-se a ignorá-lo em nome de princípios romanescos tão deslocados da vida real?
Eu compreendo-a. Passar cartão a um labrego é reconhecer-lhe a existência. O erro é julgarmos que isso de algum modo os afecta. Porque, na verdade, um labrego não tem vergonha nenhuma.
Não se pode viver com medo de ouvir o nosso nome pronunciado em público por estranhos. Ou viver temendo que o nosso nome venha a ser pronunciado em público por estranhos. Interiorizado esse pudor de classe, mais não faremos do que ceder objectivamente à intimidação que o marcar da distância nos obriga.
António Tavares Teles é o autor de uma rubrica no jornal O Jogo, denominada O Pato. Depois de ter ameaçado com um «prepare-se» um jornalista íntegro e, por isso mesmo, mais do que preparado, veio no último sábado, afirmar que possui «cópia, é claro» da factura n.º 2.1.54219 da Agência Abreu, passada a 18 de Março de 1988, ao SL Benfica, referente a «oito viagens ao Luxemburgo e Bruxelas» de oito jornalistas, no valor nominal de 87.300 escudos.Espectacular, pá!
A mesma factura já fora agitada aos quatro ventos quando a SIC, há mais de dez anos, revelou o episódio das viagens de árbitros para destinos exóticos a custas de um clube de futebol, tendo motivado um comunicado esclarecedor do Sindicato dos Jornalistas que, pelos vistos, desta vez anda a dormir. A mesma factura voltou a ser agitada pelo presidente do FC Porto, no mês passado, quando depois de três acusações por parte do Ministério Público sentiu vontade de pronunciar o meu nome, embora eu não seja do Ministério Público.
Bem pode, António Tavares Teles, também ele, emoldurar a factura e bem podemos nós, os oito jornalistas, regozijarmo-nos pelo facto de os melhores «serviços de informação do país» não terem nas nossas «fichas» nada, rigorosamente nada, que nos possam comprometer, envergonhar ou provar como criadagem ao serviço de quem quer que seja.
Em Outubro de 2003, no decorrer de um Boavista-FC Porto, Deco perdeu a cabeça e atirou com uma bota ao árbitro Paulo Paraty. Foi expulso e castigado com 3 jogos de suspensão. As pressões exercidas para aligeirar a punição do jogador constam de uma certidão do Ministério Público, no âmbito do processo Apito Dourado. As escutas referentes a este episódio foram publicadas no Correio da Manhã, a 16 de Abril. E, em resumo, é disto que se trata:
O presidente do FC Porto e o presidente da Liga de Clubes conversam ao telefone sobre a melhor maneira de despenalizar Deco. Valentim Loureiro diz a Pinto da Costa: «Mas, ó Jorge, você veja aí com os seus serviços como as coisas poderiam conduzir-se para minorar os efeitos.» E «Jorge» responde-lhe que os seus «serviços» já estão «a estudar» o assunto. Eis o estudo: o presidente dos árbitros garante ao presidente do FC Porto que o árbitro Paulo Paraty «não vai utilizar a palavra agressão» no relatório do jogo e o presidente do FC Porto convence Deco a não comentar a notícia que vai sair no dia seguinte no Pato dando conta de que o jogador se recusa a jogar pela Selecção Nacional no Europeu. Assim:
– Amanhã vai sair aquela coisa no Pato.
– Hum – responde Deco.
– É uma coisa do género «pode estourar uma bomba… ofendido com o que foi dito e o castigo»…
– Hum — volta a responder Deco.
– … e tal… pode estourar uma bomba que é possível que Deco, desgostoso com a perseguição que lhe está a ser feita, se calhar vai pedir dispensa de jogar na Selecção, ou coisa assim, estás a perceber?
– Hum, hum — é a resposta de Deco (e só por estes quatro «hums» merece uma salva de palmas).
– Que é como forma de pressão para…
– Hum, hum – mais dois «hums» de Deco, provando como é esperto dentro e fora das quatro linhas.
– Portanto, se amanhã alguém te telefonar a perguntar se isso é verdade tu dizes: «Sobre isso não falo nem uma palavra»…
A transcrição das escutas reporta-se, depois, ao dia seguinte. O presidente do FC Porto ouve Antero Henriques deleitar-se com a notícia do Pato, que já grasnara de véspera:
– Esta do Pato, do Deco, vou-lhe dizer uma coisa, pá, eu sabia que o presidente era um génio, mas esta, f…-se!
– Como é que vem? – pergunta o presidente.
– Um espectáculo, pá.
– Como é que está?
– Acho que é uma chantagem fantástica! – acha Antero Henriques.
Eu acho que é mais «um espectáculo, pá» do que «uma chantagem fantástica». E de genial, «hum», só o descaramento.
Outro «espectáculo, pá» é a notinha que o mesmo Tavares Teles escreveu no último domingo, no Diário de Notícias sobre o livro de Carolina Salgado. Passo a transcrever: «Mãozinha de quem? De Leonor Pinhão, como insinua Fernanda Freitas? Quem sabe? Autora moral já se sabia que de algum modo Leonor Pinhão era. Mas material também? Vamos ver o julgamento.»
Vamos lá, então, ao julgamento:
Ao longo de cinquenta anos a minha vida no crime resume-se a uma multa por excesso de velocidade.
Nunca fui autora moral, nem material, nem cúmplice, nem pau-mandado de «chantagens fantásticas».
Tenho, do meu lado, «moral» e «material» que o provam com ampla e eficaz suficiência.
E espero que a minha avó me desculpe ter aberto esta excepção."

(Leonor Pinhão em 'A Bola')
 
por Pedro F.Ferreira - 20:04 | link |


23 comentário(s):


Data do comentário: 12/07/2007, 20:43:00, Blogger JNF

Perfeita... a crónica está perfeita! Só mostra como operam os meandro daquela "gente" do Norte.

Acho que fazes bem em incluir a Leonor Pinhão no blogue! Ela e o Bagão Félix!

 

Data do comentário: 12/07/2007, 20:48:00, Blogger Pedro F.Ferreira

JNF, hehehe... 'contratar' a Leonor para esta nossa Tertúlia será mais difícil do que ver o andrade mor atrás das grades. :)

Quem sabe... se um destes dias ela aceitará um convite nosso para escrever por aqui umas linhas.
Abraço

 

Data do comentário: 12/07/2007, 22:05:00, Blogger Sofia

Este comentário foi removido pelo autor.

 

Data do comentário: 12/07/2007, 22:05:00, Anonymous Anónimo

Isto está fabuloso. Aquele intróito então, a forma como ela arranja de chamar o labrego de labrego sem o chamar directamente de labrego mas não o deixando de fazer de forma o mais directa possível...para até os labregos perceberem, é genial.

Se a Leonor algum dia vier a escrever para o mesmo blog que eu, posso morrer pois já não me resta esperar mais nada desta vida. Ok, morrer não digo, mas ter uma cólica muito forte, vá. Ou uma dor de cabeça, sim, é isso, uma dor de cabeça. Mas fraquinha. Que passe com 1 benuron (daqueles que já são 2 num só).

 

Data do comentário: 12/07/2007, 22:43:00, Blogger 1234567vv

Já agora... muitas das notícias que aparecem a tentar envolver Luís Filipe Vieira no Apito Dourado no correio da manhã são escritas por umas senhora chamada Alexandra TAVARES-TELES... imaginem de quem é que ela é filha???

Que grande PATADA!!!

 

Data do comentário: 12/07/2007, 22:49:00, Blogger Pedro Neto

Curto, simples e directo. Fantástica!

 

Data do comentário: 13/07/2007, 07:42:00, Anonymous Anónimo

Game, set and match
Que grande bofetada de luva branca
Eu penso que certos jornaleiros aprenderam a profissao com o Robert Maxwell. Falsificacao, mentira e deturpacao de factos e o pao nosso de cada dia.
Esperemos pela queda. Sera grande e sangrenta

 

Data do comentário: 13/07/2007, 09:55:00, Blogger Mr. Shankly

Vermelhovzky, e sabes com quem é casada a Alexandrinha?
Invetiga, e ficas a perceber quem é outro moço de recados.

 

Data do comentário: 13/07/2007, 09:55:00, Anonymous Anónimo

Esta mulher é fantástica! Consegue responder com nível a gente sem nível nenhum, vulgo "labrego"!
Eu só de imaginar comentar num blog de benfiquistas em que a Leonor Pinhão escreve faz-me sentir orgulho!!!

 

Data do comentário: 13/07/2007, 11:53:00, Anonymous Anónimo

Data do comentário: 12 de Julho de 2007 22:43, VeRMeLHoVZKy

"Já agora... muitas das notícias que aparecem a tentar envolver Luís Filipe Vieira no Apito Dourado no correio da manhã são escritas por umas senhora chamada Alexandra TAVARES-TELES... imaginem de quem é que ela é filha???

Que grande PATADA!!!"


Exactamente, estes joguinhos têm de ser desmascarados publicamente e até pelo próprio LFV.

 

Data do comentário: 13/07/2007, 12:21:00, Blogger el niño rosso

Já compreenderam agora porque é que a doce Leonor é a minha referência como benfiquista? É o único dia em que compro um jornal desportivo: às quintas-feiras, não falha. Por isso mesmo acredito que se o guião do filme for seguido sem desvios vamos ter um enorme sucesso.

 

Data do comentário: 13/07/2007, 15:08:00, Blogger Mantorras Rei do Futebol

classe.

 

Data do comentário: 13/07/2007, 18:08:00, Anonymous Anónimo

Penso que a Alexandra é Benfica.alguem confirma?

 

Data do comentário: 13/07/2007, 18:27:00, Anonymous Anónimo

Sempre gostei muito dos textos da leonor pinhão, quer pela inteligência, quer pela capacidade de dizer o que pensa, quer esteja certa , quer esteja errada, mas sempre defendeu a sua opinião.
No entanto, sempre me ficou entalado na garganta o facto de ela ter aconselhado não votar vieira numa das cronicas dela aquando da primeira eleiçao em que o vieira concorreu. Ainda não fui capaz de esquecer essa.
No entanto, mais uma vez, uma bela crónica.

 

Data do comentário: 13/07/2007, 20:29:00, Blogger JNF

Tudo bem que ter a Leonor Pinhão a escrever para o vosso blog era espectacular, mas então que tal terem a...

CAROLINA SALGADO!

Assim, ela podia contar aqui na Internet, em primeiríssima mão, no vosso blog, todas as histórias (ou estórias) da vida conjugal dela com um sujeito do qual não me recordo do nome! LOL

 

Data do comentário: 14/07/2007, 02:38:00, Blogger Hugo A. Rodrigues

Mais um grande texto da grande Leonor. Sempre na primeira linha em defesa do nosso Benfica, e sempre com "ganas" de desmascarar as situações fétidas que têm dominado o futebol português nas duas últimas décadas.
Será um grande prazer tê-la regularmente entre nós. :)

 

Data do comentário: 14/07/2007, 16:50:00, Blogger groingsid

R-E-S-P-E-C-T!

E uma resposta com classe fica sempre bem.

 

Data do comentário: 14/07/2007, 19:51:00, Blogger João Tomaz

E não esquecer que a Alexandra Tavares Teles criou nome quando se especializou em atacar o Benfica no Independente...

 

Data do comentário: 15/07/2007, 15:14:00, Anonymous Anónimo

Classe...coisa que não abunda muito lá para as bandas do dragão.

Crónica excelente.

 

Data do comentário: 16/07/2007, 13:07:00, Blogger tma

Mais um grande artigo da Leonor Pinhão.
"Compreendo" a obsessão que a norte têm pela Leonor Pinhão: é que não têm um único escriba que defenda a clubeta regional que se aproxime sequer dos calcanhares da classe da 'nossa' Leonor. Como tal, tentam, em vão, denegrir a sua imagem.

 

Data do comentário: 16/07/2007, 18:08:00, Anonymous Anónimo

Boas tardes!!!

É pá, ó pessoal, que gostem da Leonor Pinhão por mim tudo bem agora dizerem que a mulher tem classe....
É pá, pior que ela só mesmo o MST (esse Pato nem tem qualificação possivel)...

Para mim quem não vê para além da cor do seu clube não me convence. Pode dizer alguma coisa certa no meio de tanta coisa que dizem mas pelo Amor de Deus...

Falei desses como podia nomear o Dias Ferreira do meu clube, que é mais ou menos o equivalente.

Classe meus amigos, tem o Fernando Seara.

Cumprimentos Leoninos

 

Data do comentário: 17/07/2007, 00:01:00, Blogger tma

SF, o Seara até pode ter classe, mas a defender o Benfica deixa muito a desejar. É demasiado "politicamente correcto"...
Comparar a LP ao MST, sobretudo em matéria de honestidade intelectual, é o mesmo que comparar as qualidades futebolísticas do Eusébio com as minhas.
Em relação ao Dias Ferreira, mais facilmente o comparo a um cão raivoso, ansioso por morder alguém, de preferência benfiquista...

 

Data do comentário: 23/07/2007, 16:08:00, Anonymous Anónimo

Que tal irem ver os processos que o presidente do FC Porto põs contra a Alexandra Tavares Teles. Foram mais de dez. A rapariga até protecção policial teve de usar nos anos 90. O seu a seu dono.