Tenho assistido com um misto de preocupação e condescendência ao surgimento de opiniões de benfiquistas, nomeadamente na caixa de comentários deste humilde blog, a defenderem a continuidade do Fernando Santos como treinador do clube na época que vem. A preocupação advém basicamente do facto de, quanto a mim, tal tomada de posição se dever a uma lógica que gostava de manter afastada do clube por traduzir um grau de exigência menor em relação ao que eu acho que devam ser os parâmetros que nos regem, ou deviam reger, enquanto adeptos do Benfica.
A saída do Fernando Santos resolverá todos os problemas de que o futebol do Benfica padece? Não. Não resolve.
No entanto, pergunto se a continuidade do Fernando Santos não poderá levar a um caso em tudo semelhante ao de muitos outros em que após uma época menos conseguida e apesar da desconfiança crescente com que eram olhados, pela critica em geral e pelos adeptos em particular, os treinadores mereceram um voto de confiança da Direcção, não resistindo depois ao primeiro desaire da nova época? Não nos iludamos, meus caros, a continuar para 2007/'08 (ainda coloco a hipótese de tal não suceder, pois a esperança é a última coisa a morrer) o Engº já terá gasto boa parte do crédito que mesmo assim lhe foi concedido este ano, pese a desconfiança que o seu nome sempre gerou praticamente desde o dia da apresentação (eu disse "praticamente"?), e a paz podre que hoje se sente, quando tento analisar a relação da massa associativa para com ele, pode-se transformar rapidamente num caso de guerra declarada.
E aí não teremos apenas perdido a época 2006/07, pois juntar-lhe-emos desgraçadamente a época seguinte.
É óbvio que haverá outras alterações que terão de ser feitas, uma das quais parece já estar apalavrada: o regresso do José Veiga aos comandos do futebol encarnado. Não sou fã dele, mas penso que a ausência de um Director Desportivo foi das piores coisas que nos sucedeu na segunda metade desta época e, quanto a mim, foi um dos mais graves erros do Luís Filipe Vieira enquanto Presidente do Clube. A substituição do José Veiga nunca por nunca deveria ter sido colocada em banho-maria a aguardar que o ex-empresário resolvesse os problemas pendentes com a Justiça portuguesa. Se me perguntarem, eu preferia que se virasse a página e se apostasse noutro nome (de preferência benfiquista, embora a minha opinião já tenha sido mais fundamentalista nesta questão), mas, bem ou mal, é preciso um homem que faça a ponte entre a Direcção e o plantel (equipa técnica e departamento médico incluídos). Um treinador com outras qualidades que não as que o Fernando Santos possui poderia ter ajudado a minimizar os efeitos negativos que esta ausência provocou. Mas aqui a culpa não lhe pode ser atribuída, pois ninguém em seu perfeito juízo poderia julgar por um momento que fosse que o Fernando Santos tivesse unhas para tocar ainda mais esta guitarra.
Apesar de ter centrado boa parte do texto no nosso treinador devo dizer que ele reparte as culpas pelo mau momento que atravessamos com a dupla Luís Filipe Vieira & José Veiga. Afinal de contas, os únicos responsáveis pela sua vinda e pela constituição do plantel. Em primeiro lugar, não tiveram em conta uma das máximas que não deveria ser esquecida nunca quando chega a hora de escolher um treinador para assumir o cargo de técnico principal do Benfica: não deve ser português. Os níveis de pressão a que a pessoa que assume este lugar está sujeita são incomparavelmente superiores e mais sufocantes do que qualquer outro clube em Portugal. A começar pelos adeptos*, mas passando muito rapidamente pela comunicação social que, ao contrário do que muitas vezes é dito e é aparentemente aceite por muitos, não é favorável aos interesses do Benfica. Não se confunda visibilidade com boa imprensa. São dois conceitos bem diferentes.
Já no que respeita ao plantel não creio que os erros tenham sido assim tantos como isso, ou pelo menos que obrigassem a que a rotatividade (não) empregada no decorrer da época fosse a que foi, isto porque considero, sinceramente, que actualmente o Benfica possui o melhor plantel do futebol português. Há outra situação que penso estar a passar despercebida a quem diz que os interesses do clube serão melhor salvaguardados se o Fernando Santos se mantiver como treinador principal e que é a seguinte: quantos serão os jogadores que terão de ser obrigatoriamente dispensados porque o treinador não conta com eles, e quantos terão de necessariamente fazer o caminho inverso? Ou seja, teremos o mesmo treinador (e não se abanará a estrutura do clube por esse lado) mas, por outro lado, teremos um autocarro de jogadores a sair e outro a chegar.
* Deixei os adeptos para o fim, pois confesso que, pela primeira vez em muitos anos, estou a ser obrigado a ponderar bem se realmente os níveis de pressão se mantêm assim tão altos ou se eles baixaram drasticamente. A ver vamos como correm os restantes jogos que faltam para terminar a Liga. A ausência de adeptos no nosso Estádio dificilmente fará pender a minha opinião para qualquer uma das prerrogativas em equação. E, aliás, não considero esta a atitude ideal para quem gosta do Benfica mas está descontente com o rumo que o futebol do clube está a ter deva tomar. Poderá até parecer bizarro mas os meus últimos dias têm sido polvilhados por pensamentos ocasionais sobre tarjas que gostaria de ver presentes no Estádio da Luz amanhã, antes do jogo com a Naval.
Sugerem alguns dizeres?