Com o avançar da tecnologia não deverá estar longe o momento em que possamos tirar fotografias sem o uso de qualquer aparelho e em que estas fiquem alojadas algures no nosso córtex cerebral. A memória disponível dependerá de cérebro para cérebro e, se bem que nada neste momento me faça pensar que terei um espaço extraordinariamente extenso para albergar essa informação, estou certo de que seria o suficiente para uma fotografia mental que eu tirei ontem e que explicaria melhor do que todas as palavras que possa utilizar o pensamento com que saí do Estádio da Luz e que tentei resumir de uma forma um pouco tosca, admito, no título deste post.
Como esse futuro ainda não chegou e é no presente que vos escrevo, não saberei enumerar com exacto rigor os nomes dos jogadores benfiquistas que vi, prostrados no relvado ou em posições de descanso, quando para o apito final do árbitro ainda distavam umas boas duas dezenas de minutos, após um qualquer lance em que a equipa havia sido apanhada em contra pé e sido posta em perigo num dos poucos contra-ataques do adversário na 2ª parte. No entanto asseguro-vos de que o que estes olhos viram e o proprietário dos mesmos concluiu foi que a equipa estava, mais uma vez, de rastos (e atenção que em alguns dos casos nem sequer estou a empregar o sentido figurado da expressão). Como não se antevia do banco qualquer assomo de sagacidade que alterasse positivamente o que se via dentro de campo, a vitória no jogo e o subsequente relançamento das aspirações da equipa no campeonato só seriam possíveis através de um qualquer lance fortuito. E já sabemos todos (sabemos, não sabemos?) que as palavras 'sorte' e 'Fernando Santos' não rimam.
É-me, no entanto, tremendamente difícil compreender o processo mental de um treinador de futebol que leva a que ele opte por insistir em colocar, ou deixar em campo, jogadores completamente exaustos ao invés de os substituir por outros, frescos. Além de matar completamente qualquer réstia de moral e auto-motivação que os jogadores não titulares tenham ou pudessem ter, a própria mensagem que transmite para dentro e fora do campo está muito perto de atravessar a linha que separa a impotência da incapacidade.
Explicando: se ontem, por exemplo, e não me querendo, de todo, colocar na pele dos sportinguistas (blharc), visto que, se o fizesse, seria obrigado a questionar o rumo que o meu clube estava a ter pois, com condições perfeitamente vantajosas para se colar ao primeiro lugar, a equipa e o meu treinador, e arrisco-me a juntar-lhes os próprios dirigentes e os adeptos, preferiram uma toada de contenção que, mais do que a conquista de um ponto, me pareceu a perda de dois; como eu dizia antes deste devaneio clubístico, se ontem do outro lado houve uma equipa que não se importou de colocar uma série de jovens, alguns deles talentosos e com futuro, outros nem tanto e outros ainda que nem me parecem ter presente e/ou futuro, será que o Benfica (pois apesar de não parecer, é deste centenário e muitas vezes glorioso clube de que vos escrevo) e o seu treinador caíam na lama se um João Coimbra ou um Beto ou um Miguelito ou um Derlei ou um Paulo Jorge, eu sei lá, se ALGUÉM com duas pernas e com um passado de jogador que falasse por si - que, portanto, estava ali equipado porque, de facto, em tempos havia tido exibições que provocaram o interesse e posterior aquisição por parte do clube - fossem lançados para dentro de campo para subtrair ao jogo uma das várias camisolas que, parece-me a mim, permaneceram em campo basicamente porque nas suas costas estavam escritos os nomes de jogadores que no início da época disseram ao senhor que estampa as ditas: “ Olá, muito prazer, o meu nome artístico é “x”, “y”, ou “z” “?
É sintomático, no entanto, [sintomático para não lhe chamar triste, incompetente ou risível] que, às tantas, no decorrer dos últimos jogos dê por mim a suspirar por alguns dos jogadores que foram dispensados em Dezembro e que muito jeito poderiam vir a dar neste desgraçado final de época. Tanto assim é que estou tentado a, para o ano, além dos habituais pedidos ao Pai Natal de um carro telecomandado, um saco de berlindes e a subscrição anual dos livros do Tio Patinhas, também pedir encarecidamente aos dirigentes do meu clube que não façam qualquer mexida na equipa. Só quem não se recordar das movimentações do Benfica nas últimas reaberturas do mercado de futebol é que pode estranhar este meu pedido.
Entretanto começa-se a interiorizar no meu cérebro inibido, que continua de armazenar e divulgar fotografias mentais como pudemos constatar logo no primeiro parágrafo, a ideia de promover uma venda de rifas cujo prémio único será a aquisição de um lugar cativo para a época de 2007/08 para o “mujahidin” que actual e desgraçadamente se encontra sentado 3 filas atrás de mim. Vocês, que se encontram num raio de aproximadamente 20 m2 de mim, na Bancada Sapo, 3º Piso, sabem do que eu estou a falar e estou certo que não deixarão cada um de adquirir a sua rifa.
E esta dor de cabeça que não me larga.
p.s. aos que buscavam uma crónica detalhada sobre o que se passou no jogo de ontem, aconselho uma visita, que nesta altura já deveria ser obrigatória para todo o benfiquista que se preze, ao blogue de um dos meus companheiros de escrita aqui na "Tertúlia", e que pode ser encontrado ao digitarem as palavras http://spiny-norman.blogspot.com/ no vosso browser.